- Oi tudo bem, e ai como foi a viagem de volta?
- Tirando o fato de ser confundida com uma traficante e ter sido tratada como tal, foi bem.
- O QUÊ???
- Isso. Estavamos eu e Bebedocinha ja sentadas, com cinto de segurança e tudo mais, quando a comissaria veio pedir que a acompanhassemos. Fomos, claro. No meio do caminho saimos pela escada 'dos fundos', fomos parar no "quartinho de torturas"(*).
- Pra onde a senhora ta indo?
- O que tem dentro da mala?
- Tem nacionalidade? (Porque não perguntam se sou ilegal logo de uma vez heim?)
- Essa menina ai vai com a senhora? ( Chamar Bebedocinha de "essa menina ai" foi ofensivo).
- O que é que tem dentro da mala?
- A senhora sabe que tem material que é proibido de ser transportado?
- A senhora mora a quanto tempo la?
- Faz o que da vida?
- O que é que tem dentro da mala?
- Porque que ta enrolada no plastico? (Porque eles destroem as malas alheias seu puliça, nunca viajou de avião na sua vida não??)
Essas e muitas outras perguntas, foram feitas até que por fim 'pediram minha autorização' pra abrirem a mala e descobrir que o tal material que parecia com a cocaina no raio x, era nada mais nada menos que o brinquedo da Bebedocinha.
- Mas e ai, o que você fez?
- O obvio né, responder todas as perguntas, quase morrer do coração, sem entender o porque da tortura psicologica e chorar cada minuto das 10 horas de voo que ainda tinha pela frente.
- Perai, mas você não falou nada? Não teve nenhuma reação?
- Sim. Perguntei se queriam ver meus documentos e se queriam abrir a mala, ao fim de cada resposta para as 856 perguntas que me fizeram. Mas sacumé né, a 'errada' ali era eu.
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Contando assim parece piada pronta ne, mas a verdade é que esse acontecimento quase surreal me fez ter uma volta terrivelmente dificil. Me odiando por ter agido como uma boba que não conseguiu tomar as rédeas da situação e dar fim naquela humilhação logo que ela começou, triste demais por constatar o que havia aprendido la atras no curso de direito: no Brasil é culpado até que se prove o contrario, e sentindo tantas outras coisas que nem consigo definir.
(*) não foi literalmente um quartinho de torturas, mas ser retirada de um avião, descer pelas escadas de emergencia do corredor de embarque e ir parar nos fundos do aeroporto, com dois policiais na sua frente, uns quatro funcionarios em volta, uma iluminação amarelada e um interrogatorio que não perde pra filme nenhum... so faltou as paredes sujas viu.
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Detalhe técnico: são 02:05 da madruga, estamos eu e Bebedocinha super acordadas, bebendo chà de pessego e comendo madalena! Haja paciência pra se adaptar com o fuso de volta viu!